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Exercício de Integração Ambiental nº1

Saia em uma noite sem lua

Deixe a lanterna em casa

Deixe qualquer luz para trás

Olhe para o escuro

Não deixe os olhos parados

Você verá melhor com o canto dos olhos

Observe as estrelas, considere

Os satélites irão passar,

Siga devagar

As nebulosas irão aparecer

Espere 20 minutos

30 minutos

Não deixe os olhos parados

Fique parado

Veja uma estrela cadente

Acorde/adormeça

Exercício de Integração Ambiental nº2

Encontre a cerca que separa a estrada da mata

Deixe no chão tudo que vem arrastando desde a cidade (em seus ombros)

Pule a cerca (ela pode estar apenas em sua cabeça)

Encontre um local confortável

Sente

Feche os olhos

Escute o canto dos pássaros

Fique em silêncio

Espere

Espere mais

Os insetos começam a pousar em seus braços

Resista à tentação de abrir os olhos

Ouça o vento

O canto dos pássaros mudou

Abra os olhos

Levante devagar

Siga

Exercício de Integração Ambiental nº3

Encontre a trilha no meio da mata

Feche os olhos

Caminhe devagar

Sinta o sol na pele

A sombra

O chão sob seus pés

Ouça as pedrinhas se deslocando

As mudanças de nível

Caminhe sem sair do caminho,

Ou saia

Escute a cachoeira

Caminhe em sua direção

Sinta as gotículas de umidade no seu rosto

Sinta a cachoeira próxima de você

Abra os olhos

Contemple

Exercício de Integração Ambiental nº4

Deite na grama

Braços ao lado do corpo

Afunde na grama

Ouça a grama

Entenda que você e a grama são um só

Espere um minuto

Espere 10 minutos

Espere até o tempo não fazer mais sentido

Se chover, chova

Se ventar, vente

Abra os braços

Feche os olhos

Enraize

Exercício de Integração Ambiental nº5

Caminhe até a beira do lago

Observe a superfície da água

A água oscila ao toque do vento

Procure uma pedra na margem

Sinta seu peso, sua textura, sua forma

Lance a pedra na água e observe ela afundar

Perceba as ondulações na superfície

Ela se expande em todas as direções

A onda toca a margem aos seus pés e retorna

E toca a outra onda

Jogue outra pedra

As ondas de uma tocam as ondas da outra

Uma pedra maior

Uma pedra menor

As ondulações são diferentes

Mas as influências continuam

Entre no lago

Reverbere

Exercício de Integração Ambiental nº6

Pegue uma folha de papel

Enrole para formar um canudo

Aberto o suficiente

Para que possas olhar através dele

Procure um tronco

Observe o tronco através do canudo

Explore os matizes e as texturas

Os fungos e musgos

Os pequenos insetos, aranhas,

As gotas de orvalho ou da chuva

Observe o tronco através do canudo, o mundo

Observe o tronco, através do canudo, o mundo

Exercício de Integração Ambiental nº7

Acompanhe até a hora do crepúsculo, as percepções do seu inconsciente

Siga o voo daquela borboleta amarela, na curva da trilha, até o tronco caído

Siga a linha do tronco até encontrar uma trilha de roedores no chão

Rasteje na trilha pelo chão molhado

Siga o caminho de formigas pretas

Que cortam a trilha dos roedores

Acompanhe as formigas

Que não carregam nada, até o local do corte

Um pequeno campo coberto com flores amarelas

Sob as quais flutuam borboletas da mesma cor

Poética dos Exercícios

Gosto da simbologia de pular a cerca, não apenas cruzar a cerca, passar para o outro lado, não! É preciso pular as cercas. Até não haver mais cercas para pular. Por mais antagônica que seja a ideia disruptiva de pular a cerca associada a integração ambiental, creio não haver oposição de ideias, talvez de ação, talvez. Vejamos: quando proponho integração ambiental, me refiro a entrar no ambiente, reconhecer e ser reconhecido por ele, fazer parte. Não existem cercas na natureza, elas são produzidas pelo ser humano, física e mentalmente. O pular a cerca, em um de seus múltiplos simbolismos, significa enfrentar, opor-se, mas ao quê? Há tanto ao que se opor, se fizermos o recorte para a natureza, limitamos o conceito, mas nem tanto teremos: desmatamento, destruição, garimpo, genocídio de povos originários, aquecimento global, especismo. Não é intenção deste texto abarcar todas essas deias diretamente, mas apenas pelas simples e (quase) ingênuas ações propostas. Os Exercícios de Integração Ambiental são apresentados neste texto por considerarmos sua relevância para a compreensão teórica e poética desta pesquisa. A parte poética/escrita da pesquisa emerge de meu trabalho como professor, de como procurava apresentar para quem participava da atividade, as práticas desenvolvidas com Cacciatore, a pesquisa busca com esses escritos um caminho para compreender o que estava fora da intenção consciente, mas na ação no ambiente. Esses exercícios (um trabalho de autoimersão, fugindo da mistificação de conceitos) talvez sejam uma maneira de codificar uma ação contínua de um professor em contato com os alunos no ambiente, em um texto poético para alcançar, como artista, o participante.